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quarta-feira, 3 de julho de 2019





E o sino não tocou 
 Mario Barreto França

Cromwell – O Ditador – dominava a Inglaterra.
Ás lutas sempre afeito e acostumado à guerra,
Seu coração possuía a têmpera de um aço
E a dureza da pedra. O pobre ou ricaço
Nivelavam-se ao seu imparcial julgamento.
Havia nele, entanto, um ou outro momento
Em que perdia a calma. Então, era um perigo,
Se houvesse de aplicar a pena de um castigo.

Foi num instante assim, que ele, notando a falta
De um jovem militar, se enfurece e se exalta
E, sem querer ouvir qualquer explicação,
Condena-o incontinenti à extrema punição.

Ninguém o fez o mudar a decisão tomada,
Nem mesmo do soldado a jovem namorada,
Que explica, chora, apela e suplica piedade
Para o seu pobre noivo.  É em vão, que a austeridade
De Cromwell não se abala... Era sua virtude
Jamais voltar atrás de uma firme atitude....

Daquele execução marcou-se o mês e o dia,
Porquanto a hora fatal toda a gente sabia:
Era quando, ao cair da tarde, o velho sino
Da velha catedral. Grave como o destino
Marcava em triste sons de longas badaladas
O ângelus saudoso.

Esperanças fanadas
Começavam a enlutar a alma daquela jovem,
Cujas súplicas e ais os corações comovem;
Porém, que como os seus, em nada lhe valiam,
Que nem um só favor seus rogos conseguiam.
É que os homens da Corte e os juízes, ninguém
Se atrevia enfrentar o Ditador.
Pois bem,
Vendo tudo perdido, a jovem destemida
Tenta um plano final para salvar a vida
Do noivo condenado. Oferece ao sineiro
Tudo o que possuía em joias e dinheiro;
Mas o velho, fiel a sua profissão,
Deu-lhe as costas, dizendo asperamente:
 - Não!
No dia e na hora certa o sina há de planger!
Seja lá para quem for, cumprirei meu dever!

Chega o dia afinal. A tarde declinava.
O pelotão da morte, em forma, se postava
Em frente ao condenado, à espera do sinal
Do sino a badalar, na velha Catedral.

Para todos, ali – testemunhas legais
Da justiça em função – os minutos finais
Pareciam sem fim...
Mas o sinal não vinha.
O próprio Ditador, presente, mal continha
A fúria, por notar que o sino não tocava.

O comando da tropa, a postos, esperava.
E o sino não tocou...
Que acontecera?... Então,
Cromwell, surpreso, exige urgente explicação.

Enquanto isso ocorria, além na Catedral,
Quando o velho sineiro ia dar o sinal,
Puxando a corda ao sino, a jovem que subira
A escada da torre ao badalo se atira,
Agarra-se com ele; e seu corpo franzino.
Abafou todo o som das paredes do sino.

Para lá, para cá, o bronze se movia,
Mas de sua intenção ela não desistia
Disso dependeria a salvação do amado...
Por isso resistiu.

Sem nada ter notado,
Velho e surdo, o sineiro o servidão encerrou,
E, em seguida, em seu quarto humilde penetrou.

Tendo o corpo ferido e as mãos ensanguentadas,
Desceu a jovem noiva as escuras escadas,
E foi, a se arrastar, com grande sacrifício,
Ao lugar usual para qualquer suplício,
E onde, deixou de haver, por sua nobre ação,
Do soldado, a esperada e horrenda execução..

Lá, encontrou, ainda, a escolta, o condenado,
Os juízes à frente e o Ditador ao lado,
Mandando averiguar de tudo aquilo, a causa.

A jovem se aproxima.... Houve silêncio e pausa...
Diante do Ditador se ajoelha, e lhe declara
O motivo por que o sino não tocara.
Mostra o corpo ferido e as pores mãos em sangue.
E em lágrimas suplica, e pede, e apela exangue:
- Perdoai-o, senhor! Prometo que, ao meu lado,
Ele há de obedecer as leis, como soldado,
E, como cidadão, correto há de viver,
Honrando o seu país, cumprindo o seu dever!

Poupai-o desta vez; e, em nome desse amor,
Perdoai-o, senhor! Perdoai-o, senhor!
E o grande Ditador, vencido de emoção,
Aquela jovem noiva, ergueu-a pela mão.
Chama o soldado e diz-lhe: - “Eis teu anjo da guarda”!
E, apontando-os, declara aos seus oficiais:
- E o sino não tocou!... Deixai-os ir em paz!

Assim, no alvorecer edênico do mundo,
O homem, faltoso e mau, foi também condenado
A extrema punição do seu erro profundo,
Na troca desigual do bem pelo Pecado;
Mas, um dia, Jesus fez-se eterno vigário
Entre o homem e Deus, no convênio da paz;
E, por seu grande amor, suplica no Calvário:
- Perdoai-o, Senhor, pois não sabe o que faz!

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