E o sino não tocou
Mario Barreto França
Mario Barreto França
Cromwell – O Ditador
– dominava a Inglaterra.
Ás lutas sempre
afeito e acostumado à guerra,
Seu coração possuía a
têmpera de um aço
E a dureza da pedra.
O pobre ou ricaço
Nivelavam-se ao seu
imparcial julgamento.
Havia nele, entanto,
um ou outro momento
Em que perdia a
calma. Então, era um perigo,
Se houvesse de
aplicar a pena de um castigo.
Foi num instante
assim, que ele, notando a falta
De um jovem militar,
se enfurece e se exalta
E, sem querer ouvir
qualquer explicação,
Condena-o
incontinenti à extrema punição.
Ninguém o fez o mudar
a decisão tomada,
Nem mesmo do soldado
a jovem namorada,
Que explica, chora,
apela e suplica piedade
Para o seu pobre noivo.
É em vão, que a austeridade
De Cromwell não se
abala... Era sua virtude
Jamais voltar atrás
de uma firme atitude....
Daquele execução marcou-se
o mês e o dia,
Porquanto a hora fatal
toda a gente sabia:
Era quando, ao cair
da tarde, o velho sino
Da velha catedral.
Grave como o destino
Marcava em triste
sons de longas badaladas
O ângelus saudoso.
Esperanças fanadas
Começavam a enlutar a
alma daquela jovem,
Cujas súplicas e ais
os corações comovem;
Porém, que como os
seus, em nada lhe valiam,
Que nem um só favor
seus rogos conseguiam.
É que os homens da
Corte e os juízes, ninguém
Se atrevia enfrentar
o Ditador.
Pois bem,
Vendo tudo perdido, a
jovem destemida
Tenta um plano final
para salvar a vida
Do noivo condenado.
Oferece ao sineiro
Tudo o que possuía em
joias e dinheiro;
Mas o velho, fiel a
sua profissão,
Deu-lhe as costas,
dizendo asperamente:
- Não!
No dia e na hora
certa o sina há de planger!
Seja lá para quem
for, cumprirei meu dever!
Chega o dia afinal. A
tarde declinava.
O pelotão da morte,
em forma, se postava
Em frente ao
condenado, à espera do sinal
Do sino a badalar, na
velha Catedral.
Para todos, ali –
testemunhas legais
Da justiça em função
– os minutos finais
Pareciam sem fim...
Mas o sinal não
vinha.
O próprio Ditador,
presente, mal continha
A fúria, por notar
que o sino não tocava.
O comando da tropa, a
postos, esperava.
E o sino não tocou...
Que acontecera?...
Então,
Cromwell, surpreso,
exige urgente explicação.
Enquanto isso
ocorria, além na Catedral,
Quando o velho
sineiro ia dar o sinal,
Puxando a corda ao
sino, a jovem que subira
A escada da torre ao
badalo se atira,
Agarra-se com ele; e
seu corpo franzino.
Abafou todo o som das
paredes do sino.
Para lá, para cá, o
bronze se movia,
Mas de sua intenção
ela não desistia
Disso dependeria a salvação
do amado...
Por isso resistiu.
Sem nada ter notado,
Velho e surdo, o
sineiro o servidão encerrou,
E, em seguida, em seu
quarto humilde penetrou.
Tendo o corpo ferido
e as mãos ensanguentadas,
Desceu a jovem noiva
as escuras escadas,
E foi, a se arrastar,
com grande sacrifício,
Ao lugar usual para
qualquer suplício,
E onde, deixou de haver,
por sua nobre ação,
Do soldado, a
esperada e horrenda execução..
Lá, encontrou, ainda,
a escolta, o condenado,
Os juízes à frente e
o Ditador ao lado,
Mandando averiguar de
tudo aquilo, a causa.
A jovem se
aproxima.... Houve silêncio e pausa...
Diante do Ditador se
ajoelha, e lhe declara
O motivo por que o
sino não tocara.
Mostra o corpo ferido
e as pores mãos em sangue.
E em lágrimas
suplica, e pede, e apela exangue:
- Perdoai-o, senhor!
Prometo que, ao meu lado,
Ele há de obedecer as
leis, como soldado,
E, como cidadão,
correto há de viver,
Honrando o seu país,
cumprindo o seu dever!
Poupai-o desta vez;
e, em nome desse amor,
Perdoai-o, senhor!
Perdoai-o, senhor!
E o grande Ditador,
vencido de emoção,
Aquela jovem noiva,
ergueu-a pela mão.
Chama o soldado e
diz-lhe: - “Eis teu anjo da guarda”!
E, apontando-os,
declara aos seus oficiais:
- E o sino não tocou!...
Deixai-os ir em paz!
Assim, no alvorecer
edênico do mundo,
O homem, faltoso e
mau, foi também condenado
A extrema punição do seu
erro profundo,
Na troca desigual do bem
pelo Pecado;
Mas, um dia, Jesus
fez-se eterno vigário
Entre o homem e Deus,
no convênio da paz;
E, por seu grande
amor, suplica no Calvário:
- Perdoai-o, Senhor,
pois não sabe o que faz!
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