Boa Noite
Mario Barreto
França
Foi numa noite
triste - uma noite chuvosa
Que a notícia
chegou, soturna e dolorosa,
À casa do
Pastor:
- "No
centro da cidade,
Houve um grande
desastre: uma fatalidade!
Um ônibus
chocou-se a um bonde e desse choque
Saiu muito
ferido o Reverendo Roque.
E de lá do
hospital lhes envia um apelo:
Para irem
visitá-lo, irem depressa vê-lo,
Pois talvez não
tornasse a ver a luz do dia.
" Que
notícia infeliz! Que noite amarga e fria!
Quatro filhos e
a esposa ergueram-se da mesa,
Movidos pela
dor da trágica surpresa,
E saíram
correndo em busca do hospital.
Entraram no seu
quarto; o pastor fez sinal
Para chegarem
perto; e a cada qual falava
Com o terno
olhar de quem a todos venerava.
Dirigiu-se
primeiro à esposa muito querida:
-
"Companheira fiel de toda minha vida,
Juntos temos
andado e pela mesma causa
Trabalhamos com
fé, sem um dia de pausa.
Hoje, como no
dia em que te desposei,
És a mesma
mulher e amiga a quem amei
E amo com o
mesmo ardor dos meus vinte e dois anos,
Como haverei de
amar nos celestes arcanos.
Boa noite,
esposa amada! Outra vez nos veremos
Quando juntos,
no céu, ao Senhor louvaremos."
- "E a ti,
Maria, que és minha primeira filha
E foste o meu
prazer, seguindo a mesma trilha,
Boa noite,
filha! Agora em paz com Cristo vai;
E não te
esqueças mais do meu amor de pai!".
- Boa noite,
meu Guilherme! Ó filho dedicado,
Tua vida de fé
em nosso lar sagrado
Foi o mais belo
exemplo, a melhor recompensa
Que Deus me
concedeu à luz de minha crença;
Continua a
crescer nas virtudes cristãs
E sê o protetor
de tua mãe e irmãs!"
- "Célia,
filha extremosa e cândida, boa noite!
Foste uma luz
na treva, um bálsamo no açoite
Da ingratidão
do mundo. Ah! me recordo agora
Daquele
instante bom, daquela ótima hora
Em que rendeste
a Deus tua alma arrependida,
Deixando-a ao
seu dispor pelo resto da vida.
Mais uma vez:
boa noite, ó filha dedicada!
Que o Senhor te
conserve em sua obra sagrada!"
Carlos -
terceiro filho, olhou o pai, sentido,
Porquanto à
irmã mais moça o havia preferido.
E o motivo lhe
vinha inexoravelmente
Ao triste
coração, à alma convalescente:
Fora, há tempo
passado, um bom servo da Seara
E ao lado de
seu pai ativo trabalhara.
Mas,
companheiros maus e a péssima influência
De colegas sem
brio, arparam-lhe a consciência,
Fazendo-o
recuar, a batalha do amor
E apostatar da
fé em Deus, nosso Senhor.
Chegou mais
perto e ouviu o pai, triste, dizer:
- "Adeus,
Carlos! Adeus! Fugiste ao teu dever!
Eu quisera
poder falar-te as mesmas cousas
Que disse à tua
mãe e irmãos. Porém, nem ousas
Encarar-me.
Esquecestes os bons conselhos meus.
Porém eu te amo
ainda!
Adeus,
Carlos! Adeus!"
Carlos,
caindo aos pés do leitos, soluçando,
Perguntou: -
"Pai, por que aos outros, osculando,
Você disse:
'Boa noite'! e a mim só disse: 'Adeus'?
- "É que
os outros, meu filho, espero-os lá no céu
Para entoarmos
a Deus, por nossa salvação,
O cântico
eternal da nossa gratidão!"
- "Meu
pai! (Carlos confessa em lágrimas de joelhos)
Eu prometo a
Jesus seguir os seus conselhos!
Eu já me
arrependi! Eu lhe falo a verdade!
Vou dedicar a
Deus a minha mocidade,
Servi-lo para
sempre!"
- "Assim
sendo, meu filho,
Posso agora
dizer, sem nenhum empecilho:
- "Boa
noite! E que o senhor te guie e te proteja
No aconchego do
lar, no serviço da igreja!
Boa Noite,
filho meu!
E, tendo dito
isto,
Suavemente
expirou e descansou em Cristo
Ó tu que andas
gastando a tua mocidade
Nas orgias do
mundo ou na incredulidade;
Tu que buscas
na Ciência ou na Filosofia
Explicação para
alma ou pra matéria fria;
Tu que não crês
em Deus ou na vida futura;
Tu que vives
sofrendo ao peso da amargura;
Ou tu que já
seguiste o caminho da cruz
E hoje negas,
sem fé, o nome de Jesus;
Para! Volta!
Que a morte horrenda e traiçoeira
Pode cortar-te
ao meio a alígera carreira
Para o
desconhecido!
Então, o
Eterno Deus
Apenas te dirá:
- "Ó filho ingrato, adeus!"
Porém, se
arrependido e em lágrimas voltares,
Ao aprisco de
Deus, ao regaço dos lares,
Ele então te
dirá, cheio de paz e amor:
- "Boa
noite!
Entra, afinal,
no gozo do Senhor!"
Lindo
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