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terça-feira, 2 de julho de 2019




Boa Noite 
Mario Barreto França


Foi numa noite triste - uma noite chuvosa 
Que a notícia chegou, soturna e dolorosa,
À casa do Pastor:

- "No centro da cidade,
Houve um grande desastre: uma fatalidade!
Um ônibus chocou-se a um bonde e desse choque
Saiu muito ferido o Reverendo Roque.
E de lá do hospital lhes envia um apelo:
Para irem visitá-lo, irem depressa vê-lo,
Pois talvez não tornasse a ver a luz do dia.

" Que notícia infeliz! Que noite amarga e fria!

Quatro filhos e a esposa ergueram-se da mesa,
Movidos pela dor da trágica surpresa,
E saíram correndo em busca do hospital.

Entraram no seu quarto; o pastor fez sinal
Para chegarem perto; e a cada qual falava
Com o terno olhar de quem a todos venerava.

Dirigiu-se primeiro à esposa muito querida:
- "Companheira fiel de toda minha vida,
Juntos temos andado e pela mesma causa
Trabalhamos com fé, sem um dia de pausa.

Hoje, como no dia em que te desposei,
És a mesma mulher e amiga a quem amei
E amo com o mesmo ardor dos meus vinte e dois anos,
Como haverei de amar nos celestes arcanos.
Boa noite, esposa amada! Outra vez nos veremos
Quando juntos, no céu, ao Senhor louvaremos."

- "E a ti, Maria, que és minha primeira filha
E foste o meu prazer, seguindo a mesma trilha,
Boa noite, filha! Agora em paz com Cristo vai;
E não te esqueças mais do meu amor de pai!".

- Boa noite, meu Guilherme! Ó filho dedicado,
Tua vida de fé em nosso lar sagrado
Foi o mais belo exemplo, a melhor recompensa
Que Deus me concedeu à luz de minha crença;
Continua a crescer nas virtudes cristãs
E sê o protetor de tua mãe e irmãs!"

- "Célia, filha extremosa e cândida, boa noite!
Foste uma luz na treva, um bálsamo no açoite
Da ingratidão do mundo. Ah! me recordo agora
Daquele instante bom, daquela ótima hora
Em que rendeste a Deus tua alma arrependida,
Deixando-a ao seu dispor pelo resto da vida.
Mais uma vez: boa noite, ó filha dedicada!
Que o Senhor te conserve em sua obra sagrada!"

Carlos - terceiro filho, olhou o pai, sentido,
Porquanto à irmã mais moça o havia preferido.
E o motivo lhe vinha inexoravelmente
Ao triste coração, à alma convalescente:

Fora, há tempo passado, um bom servo da Seara
E ao lado de seu pai ativo trabalhara.
Mas, companheiros maus e a péssima influência
De colegas sem brio, arparam-lhe a consciência,
Fazendo-o recuar, a batalha do amor
E apostatar da fé em Deus, nosso Senhor.

Chegou mais perto e ouviu o pai, triste, dizer:
- "Adeus, Carlos! Adeus! Fugiste ao teu dever!
Eu quisera poder falar-te as mesmas cousas
Que disse à tua mãe e irmãos. Porém, nem ousas
Encarar-me. Esquecestes os bons conselhos meus.
Porém eu te amo ainda!
 Adeus, Carlos! Adeus!"
 Carlos, caindo aos pés do leitos, soluçando,
Perguntou: - "Pai, por que aos outros, osculando,
Você disse: 'Boa noite'! e a mim só disse: 'Adeus'?

- "É que os outros, meu filho, espero-os lá no céu
Para entoarmos a Deus, por nossa salvação,
O cântico eternal da nossa gratidão!"

- "Meu pai! (Carlos confessa em lágrimas de joelhos)
Eu prometo a Jesus seguir os seus conselhos!
Eu já me arrependi! Eu lhe falo a verdade!
Vou dedicar a Deus a minha mocidade,
Servi-lo para sempre!"

- "Assim sendo, meu filho,
Posso agora dizer, sem nenhum empecilho:
- "Boa noite! E que o senhor te guie e te proteja
No aconchego do lar, no serviço da igreja!
Boa Noite, filho meu!
E, tendo dito isto,
Suavemente expirou e descansou em Cristo 
                
Ó tu que andas gastando a tua mocidade
Nas orgias do mundo ou na incredulidade;
Tu que buscas na Ciência ou na Filosofia
Explicação para alma ou pra matéria fria;
Tu que não crês em Deus ou na vida futura;
Tu que vives sofrendo ao peso da amargura;
Ou tu que já seguiste o caminho da cruz
E hoje negas, sem fé, o nome de Jesus;
Para! Volta! Que a morte horrenda e traiçoeira
Pode cortar-te ao meio a alígera carreira
Para o desconhecido!

 Então, o Eterno Deus
Apenas te dirá: - "Ó filho ingrato, adeus!"
Porém, se arrependido e em lágrimas voltares,
Ao aprisco de Deus, ao regaço dos lares,
Ele então te dirá, cheio de paz e amor:
- "Boa noite! 
Entra, afinal, no gozo do Senhor!"


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